quinta-feira, 10 de maio de 2012

Dores do passado


Há quanto não sentia esse temor todo. Um eminente desaguar em lágrimas, que surgem como que rompendo o peito, buscando, da forma mais poderosa, acalmar este coração que dói. Fazer com que esse pesar infinito se expanda, para que quando não cabendo mais em mim, se parta, se reparta e seja mísero. Pequeno, ainda que sofrível, mas no tamanho que, em meio a esse não entender, eu consiga ao menos suportar.


Mais uma vez. Procuro transformar o que sinto em palavras, uma maneira de fazer mais humana a dor. E você há de me perguntar, “por que humana”? É que dividir é característica humana. Alguns dividem fortunas, outros o amor, alguns poucos a felicidade e quase todos a dor. Mas como a divisão as vezes beira a injusta falta de carinho por parte do outro, nem sempre ela é eficaz. Porque sim, é importante dividir. Não é preciso dizer, alivia! Sabe, às vezes a alma dói de tanta felicidade e se não divido, sufoca. E a felicidade, é sempre boa de doar, mas o que faz sofrer, ai ai. Dói, só de pensar em doá-lo. Mas sinto ser digno oferecer ao outro algo tão íntimo, tão intenso. Mais digno ainda seria se todos os que recebem, concebessem a doação como oportunidade de compreender, de respeitar e acima de tudo amar aquele que está ali, se entregando frágil, como se levantasse as mãos e imaginasse você como o melhor apoio. Porém, em um mundo real, a dor não é bem recebida. Talvez nenhum sentimento seja bem recebido, mas a dor? Ah ela é a primeira a ser descartada, a primeira a ser colocada de lado quando esta pertence a outro alguém, se não si próprio. Voltando ao ato humano que chamei por divisão, quis escrever como forma de externar o quanto não-humana me sinto em momentos assim. Onde a minha dor é tamanha que nem eu mesma sei explicar, mas necessito falar, ser ouvida. Todavia, o ombro amigo é sempre vago, é lugar vago. E vendo assim, peço abrigo ao meu amigo papel, companheiro das mais variadas divisões. É ele quem recebe as queixas mais profundas, as vezes até mesmo, absurdas. E assim, tento recuperar um pouco da humanidade que, outrora, perdi, já que insisto em dividir.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Declaração de amor

Falarei de pessoas que são imensamente importantes. Caso se interesse, fique a vontade para ler. 


"E a cada vez que lembro de "nós" me pergunto o que aconteceu com a gente, aonde fomos parar que não estamos mais 'entre nós'..."

Há muito tempo uma frase não me impactava tanto. Dita assim ao léu, ela já causa estremecimento, mas ao se pensar o porque dela ter sido dita, por quem foi e tudo o que envolve o nós escrito ali, sinto arrepios na alma. Eram um nós tão unido, tão próximo, que descobriu tanta coisa junta, ao mesmo e agora nesse afã próprio da adolescência, de quem deseja acima de tudo conhecer-se. Para além desse entendimento necessário, há os que desejam mais, há o adolescente que deseja compreensão, que saibam que ser ele assim, de certa forma, característico pelas suas idiossincrasias não o faz nem melhor, nem pior, apenas o faz. Nesse ponto final, conclusivo de várias formas, deveria se encerrar também questionamentos, que me importa quem pensa que é, quem pensa que quer, se pensa o que quiser. O que deveria somente dizer-me respeito é o comportamento que tem. É capaz de respeitar? É capaz de abrir espaço ao outro para que se expresse no que lhe importa? Estamos quites, calados e entendidos de que nada mais deve significar o mínimo que seja para mudar.

Como dizia, o nós que eu possuía era bem assim: cada um com seu espaço de ser. E no ser próprio e feliz, o amor reinava como a única e verdadeira valia. Nos diversos colos, podia chorar o pranto da incompreensão, que tanto feria e desanimava. Nesses abraços que, em muitas vezes não podiam sair do campo virtual, era onde eu encostava minha alma para dizer o quanto me cansava não ter lugar. Eram nas palavras de extremo carinho que eu apoiava as certezas de que dias melhores viriam, pois naquele momento e para aquelas pessoas nada além do que eu fazia importava. Por diversas vezes o amor virtual, de tão claro e palpável, atravessa o tempo, o espaço e chegava a cada uma que naquele grupo estava. Nós havíamos descoberto que um bando de gente junta, que tem um amor em comum (Ana Carolina feelings), pode criar e fazer crescer uma família. A família que vai estar para você, nos momentos em que muitas vezes a sua própria não poderá estar. Seriam noites e noites, dias, fins de semana, semanas, meses, anos em que deveríamos ceder uma a outra o que ela precisasse para dali em diante caminhar e chegar ao objetivo de, talvez, com enorme sorte, saber quem era.

Como éramos além de tudo, família. Ganhei irmã, mãe, prima, tia, tudo junto de um jeito que quem me aninhava podia puxar minha orelha, dar a ideia que depois ia ser a errada e, ao mesmo tempo, me fazer tomar a atitude que sabia dever, só não possuía a coragem que ela agora me dava. E nesse turbilhão de coisas nos fomos caminhando, deixando de nos atentar ao tempo. Isso mesmo. Tempo. Uma hora ele passaria e assim foi, como outras coisas nos distraiam, fomos pegas de surpresa. Ei, peraí. Como assim você tem aula? Trabalho? Mas o quê? Sua faculdade? Você vai mudar? Mas e a gente? Ops. Não há mais tempo pra gente. Tem certeza? Não sei, vamos tentar.

Opa, não tem internet. Olha não tenho tempo. Não, não dá pra falar hoje. No fim de semana. Mas é fim de semana e tem churrasco. Mas, mas, mas... Calma, a gente vai se falando. Tá, ok? Ok.... Saudades. Também. Fomos parando, parando. Será que foi nesse momento que passamos a não estar mais entre nós? Pergunto-me se a culpa disso foi esse tão fadado momento, que buscamos com ânsia profunda, o tal do crescer. Será que foi por que crescemos que tivemos que nos focar em outras pessoas, em outros alguéns e paramos de nos pertencer tanto?

Viro meus olhos ao passado e vejo tantos talvez para esse questionamento que não me atrevo a dar uma resposta. Só me permito saber que o amor que nasceu daquela época tão incerta será um ser pra sempre vigente. Amarei e amarei. Desejarei mais que tudo a felicidade de vocês, amadas madonas. Cada uma foi capaz de conquistas esperadas, outras inimagináveis. Algumas ainda tem muito a saber sobre si, outras já buscam o que lhe completam. E eu, mais que tudo, me orgulho imensamente de vocês. E me orgulho de ter feito parte, por um período de tempo, da vida de vocês. Os caminhos nos levaram a nos separar, a vida ou seja lá o que fez isso, mas sei que no coração de cada uma mora sentimento nobre. E eu, tenho certeza, os expresso aqui, nessas palavras mal colocadas. Falo do que vai na mente de cada uma sobre o que fomos, o que somos, o que ainda seremos. O entendimento que cabia nas letras de um computador continua existindo, sou plena em saber sobre isso. E plena sou de que o nosso amor, a nossa família, será sempre a dessas Madonas Surtadas, que fazem tudo pelaDona.

sábado, 31 de março de 2012

Intenso

Foi um doce encontro, de olhos que há muito queriam se ver. Uma deliciosa troca, do que mesmo? Daquilo que corria por dentro, que era só emoção. Ardente, em estado borbulhante. Pronto a se derreter em vivos sentimentos, que pudessem exalar aquilo que lhes corroía. Era encontro para ficar na lembrança, na memória de quem não esquece o que lhe tanto vibra o corpo, a alma. Na troca, foi-se a solidão e da despedida, nasceu querer. Que seria, enquanto o desencontro persistir, o alimento daqueles que há pouco, nada disso sabiam. Que existiam olhos que pudessem marcar. Olhos que atravessavam e ao longe viam, se encontro existir, com sorrisos até se pode sonhar. Vão nessa imensidão de possibilidades, substituir calmaria, por tensão e nessa pura intensidade vivenciar aquele querer, nascido do que talvez nem pudesse existir.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Há braços?

Por que tudo tem que ser tão vazio? Cansei de não encontrar ninguém ao meu lado nos momentos que mais preciso. Se ofereço meu ombro, por que eu mesma não possuo um colo pra chorar? Todos andam ocupados. Só com seus sofrimentos se bastam. É só falar, chorar, desabafar... E o meu pesar sufoca. Quantas vezes eu quis gritar, só para me ouvirem! Ei aqui mora um coração machucado também! É tão importante pra mim quanto o seu. As feridas dele não se ocupam de cicatrizar, apenas aumentam. Cada dia mais e mais ferem, doem, contorcem a alma no sofrer. Mas estou ali, forte, pronta para o combate. Olhos e ouvidos atentos, porque eu sei que é importante para você o meu abraço. Mas e eu? Há braços para mim? A cada dia rezo para que sim.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Saudades, a ordem do dia.

Mais um recomeço. Vontade de escrever para me sentir viva de novo.


Como é bonita essa tal saudade, afinal, só quem viveu é capaz de senti-la. Quanta gente desperta essa vontade de reviver, relembrar, estar de novo ali, com eles por perto... alguns a gente quer sempre, outros só pensar novamente. Ah nada como o lembrar um sorriso, um olhar, uma palavra, um toque, um cheiro. Ter ali vivo na memória o momento especial, o instante que foi suficientemente mágico para ser capaz de ser revivido tantas e tantas vezes quanto você consegue se lembrar. Saudade é sempre bonita porque é querer estar perto. É estampar no rosto o sorriso pela piada contada a tempos, encher os olhos de lágrimas por lembrar-se das palavras de amor, é se envergonhar pelas micagens passadas, é isso, algo que a gente pode muito bem confundir com viver. 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Retomando...

Duas poesias feitas por ai, numa aula qualquer.. por um sentimento qualquer..


Magia dos olhos

Seus olhos parados
Fixam tudo a meu redor,
Paralisam o ares,
Fotografam minha ternura.

Seus olhos sinceros,
Disparam.
Pesam minha conduta.

Seus olhos vorazes,
Procuram,
Racionalizam minha culpa.

Seus olhos calados
Exprimem,
Meu doloroso sonhar.

Seus olhos sábios
Desnudam
A alma que me devora.





Semelhantes

Reconhecer
Um toque no ar
Espelhando o sentir.
Por fora sorriso marfim,
No âmago doloroso existir.
Pontuo as escolhas,
Atos calados,
Nos fazendo iguais,
Como um mero reflexo
Dos erros maiores
Do tentar mais sincero
E do sensato pezar.
Pensar na imagem
Figuram-se a mim,
Anjos fracassados.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Fim de Tarde

Depois de anos-luz posto de novo. Dessa vez uma crônica que enviei ao Concurso de Crônicas da Feira de Literatura de São João Del-Rei, conseguindo o 4º lugar pelo Júri e o 1º através do Júri Popular pela internet.




Fim de tarde




Fim de tarde. Ao fundo, o badalar dos velhos sinos. Os mesmos seis toques de todas as tardes, que marcam a sua presença.
Lá vai ele, cabisbaixo, mãos no bolso do paletó surrado.  Se não fosse assim, tão triste e encabulado, talvez notasse aqueles olhos sedentos de sua forma tediosa, que há tanto tempo lhe acompanham.
A quem possa parecer, é um encontro marcado. Ele em sua doce solidão, com seu olhar vago e seu sorriso impreciso; e os olhos, aqueles olhos, brilhantes de querência, de tentação, sempre à mesma hora, no mesmo local.
Um andarilho mais atento se interessaria por saber o que há nesse par, tão simplório e envolvente. Em que há tanta destreza nessa fuga inconsciente e tão mais insistência nesse fazer-se notar? Eles se diferem em algo, mas não há um alguém mais interessado, nem tão pouco esforçado, em revelar tão singelas posições. Só há ele e seu caminhar matreiro, que transborda melancolia, uma dor lancinante. Em contraponto, tem aquele par de olhos, que sobrevivem ao pesar do desejo não revelado, não vivido.
Dia após dia, os dois se desencontram. Toque após toque dos sinos, os passos naquela viela, com a graça da antiguidade, são dados e trazem vida à casa de detalhes azuis, janelas brancas e aos olhos, aqueles olhos.
Eles não se cansam de ver, apenas ele passar e ir, não se sabe para onde, nem tão pouco interessa saber. A única coisa importante daquele momento, seis badaladas, é que ele vem, deixa o cheiro da sua solidão ao atravessar a rua. Há quanto tempo se observa essa tranquila dança de desencontro? Um mês, seis meses, dois anos?...
O tempo é impreciso, se arrasta com toda a dificuldade das seis badaladas que demoram tanto a serem ouvidas. Cada passagem inicia o martírio diário daqueles olhos profundos, sua emoção é a espera e nada mais. Há muito perdeu a esperança de que ele lhe notasse, buscou satisfazer-se com o que tinha: sua visão. E tentava dela, a cada novo encontro, tirar maior proveito. Os olhos eram como máquina fotográfica, podiam guardar e dizer cada característica dele. A manga puída do paletó, os sapatos mal engraxados, as camisas de cores sóbrias, o corte no rosto da barba feita às pressas. Tudo estava ali e a cada dia eram essas imagens que lhe invadiam a mente.
Naquela nova tarde, as mesmas badaladas, a mesma rua, a mesma janela, os mesmos olhos. Só ele não era o mesmo. Vinha com as mãos leves, soltas ao lado do corpo, a cabeça altiva. Observava, algo acontecera, não era mais alguém tomado pela desesperança. Era homem, como todos os outros.
As novidades parariam por aí? Subia a rua com leveza, parecendo querer compensar cada passo pesado de antes. Parecia sorrir, com a verdade de quem sabe o que quer. E a cada passo que dava e mais próximo da janela branca ficava, aqueles olhos se emocionavam, de novo. Não é necessário dizer, a que se parecia essa emoção, o acontecimento seguinte fala por si.
Ele virou-se. Olhou e encontrou aqueles velhos companheiros, brilhando de contentamento. Tudo parou, nada mais tinha significado. Apenas os dois, ele e seu admirador. Foi o instante em que os olhos se calaram e ele quis falar.
Papéis invertidos. Acabou. O relógio voltou a girar, os carros a passar. Mas algo havia mudado. Outra tarde, seis sons do sino, passos pesados, ombros caídos. Olhos na janela, à espreita. Ele passa. E os olhos sorriem.