Há quanto não sentia esse temor todo. Um eminente desaguar
em lágrimas, que surgem como que rompendo o peito, buscando, da forma mais
poderosa, acalmar este coração que dói. Fazer com que esse pesar infinito se
expanda, para que quando não cabendo mais em mim, se parta, se reparta e seja
mísero. Pequeno, ainda que sofrível, mas no tamanho que, em meio a esse não
entender, eu consiga ao menos suportar.
Mais uma vez. Procuro transformar o que sinto em palavras,
uma maneira de fazer mais humana a dor. E você há de me perguntar, “por que
humana”? É que dividir é característica humana. Alguns dividem fortunas, outros
o amor, alguns poucos a felicidade e quase todos a dor. Mas como a divisão as
vezes beira a injusta falta de carinho por parte do outro, nem sempre ela é
eficaz. Porque sim, é importante dividir. Não é preciso dizer, alivia! Sabe, às
vezes a alma dói de tanta felicidade e se não divido, sufoca. E a felicidade, é
sempre boa de doar, mas o que faz sofrer, ai ai. Dói, só de pensar em doá-lo.
Mas sinto ser digno oferecer ao outro algo tão íntimo, tão intenso. Mais digno
ainda seria se todos os que recebem, concebessem a doação como oportunidade de
compreender, de respeitar e acima de tudo amar aquele que está ali, se
entregando frágil, como se levantasse as mãos e imaginasse você como o melhor
apoio. Porém, em um mundo real, a dor não é bem recebida. Talvez nenhum
sentimento seja bem recebido, mas a dor? Ah ela é a primeira a ser descartada,
a primeira a ser colocada de lado quando esta pertence a outro alguém, se não
si próprio. Voltando ao ato humano que chamei por divisão, quis escrever como
forma de externar o quanto não-humana me sinto em momentos assim. Onde a minha
dor é tamanha que nem eu mesma sei explicar, mas necessito falar, ser ouvida.
Todavia, o ombro amigo é sempre vago, é lugar vago. E vendo assim, peço abrigo
ao meu amigo papel, companheiro das mais variadas divisões. É ele quem recebe
as queixas mais profundas, as vezes até mesmo, absurdas. E assim, tento
recuperar um pouco da humanidade que, outrora, perdi, já que insisto em
dividir.